Na região serrana, em Marechal Floriano, o número de infectados pelo coronavírus cresceu ao mesmo tempo em que a população da cidade quase dobrou durante a pandemia. De acordo com a prefeitura, isso acontece porque muitas pessoas têm saído da Grande Vitória para passar esse período de isolamento em sítios da cidade.
De acordo com a enfermeira e doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, esse fenômeno já era esperado, porque aconteceu em outros estados em que a pandemia estava em estágio mais avançado, como em São Paulo.
“Nós vimos dois fenômenos acontecerem em Estados que estavam em estado avançado em relação a nós, como São Paulo. A aceleração na periferia, em lugares onde antes não tinha a doença; e agora a interiorização. As pessoas saem daqui [da Grande Vitória], muitas com sintomas leves ou assintomáticas, levam esse vírus para o interior sem saber que estão infectadas, e infectam outras pessoas”, explicou.
Falta estrutura
Outro problema dessas regiões, apontado pela epidemiologista, é que a maioria delas não tem equipamentos de saúde, como hospitais e pronto-atendimentos, que deem conta de uma demanda muito maior do que a dos moradores do município.
“A maioria dessas cidades não tem nenhum equipamento de saúde, a não ser as unidades de saúde básicas. A estrutura dessas unidades é planejada para atender aquele numero de habitantes. Quando tem um aumento muito grande, isso é descontrolado. Profissionais da saúde são colocados em risco porque há mais pessoas, a demanda aumenta”, explicou.
Profissionais de saúde
Além disso, de acordo com Ethel, nessas regiões, muitos profissionais de saúde estão ficando doentes porque não conseguem cuidar devidamente da proteção, já que a demanda de atendimentos aumentou muito.
“Muitos profissionais de saúde estão doentes e nós não temos como substituir essas pessoas. Não adianta ter leitos, não adianta ter respiradores, precisamos dessas pessoas para qualquer cuidado. É preciso que a população entenda isso e respeitem os profissionais de saúde. Nós não queremos palmas, nós queremos respeito. Queremos que a população use máscara, permaneça em isolamento, em distanciamento social. É isso que vai mudar a realidade da pandemia”, considerou.
Marechal Floriano, no ES, dobrou número de atendimentos — Foto: Reprodução/ TV Gazeta
Estabilização
De acordo com o secretário de Estado da saúde, Nésio Fernandes, a curva dos números de casos da Covid-19 nos municípios de Serra e Vitória indica uma tendência à estabilização no número de infectados pela doença nessas duas cidades.
“O conjunto de dados nos permite analisar que a curva de casos em Serra e Vitória tem uma tendência de estabilização, mas isso não significa recuperação. Em Cariacica e Vila Velha ainda há tendência de crescimento no número de casos, ainda que em uma velocidade menor. No interior, a doença ainda cresce, já que essas regiões têm um atraso de três semanas em relação à Grande Vitória”, explicou.
No entanto, para a epidemiologista, ainda é cedo para falar em estabilização, porque os números da pandemia ainda estão crescendo em todo o Estado.
“Eu acho prematuro falarmos de qualquer tendência neste momento, porque ainda estamos em aceleração da pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer estabilização só pode ser confirmada se tiver um período de 15 dias a um mês de desaceleração ou permanência desses números. Precisamos observar as próximas semanas”, considerou.